RoI: priorizando 100% do seu portfólio | K21

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RoI – Retorno sobre o Investimento: priorizando 100% do seu portfólio

15/04/21 - 7 minutos de leitura

Para que serve o RoI (Retorno sobre o Investimento)? Uma das coisas mais fáceis é termos ideias e delas derivarmos diversos projetos. É muito comum no início do ano idearmos e até mesmo planejar coisas como iniciar uma dieta, fazer mais exercício, começar um curso etc.

Temos muitas ideias, mas poucos recursos. Além disso, temos que implementá-las no mundo real. É aí que as coisas costumam a dar errado. Prioridades mudam, coisas aparecem e todos aqueles desejos vão sumindo no decorrer do ano. As empresas não são diferentes.

Tradicionalmente essas ideias de novos projetos surgem no final do ano anterior. Já me deparei com empresas que tinham 50, 140, 220 projetos “priorizados” para o ano seguinte. Algo que me chamou a atenção é que a quantidade de times sempre foi menor do que 10% da quantidade de projetos “priorizados”.

Há diversas formas de priorizar, mas a que eu quero apresentar aqui é o Retorno sobre o Investimento, o RoI (Return on Investment), por vezes abreviado também como R/I). Essa técnica usa a análise financeira sobre a expectativa de resultado e esforço envolvidos para cada iniciativa.

A fórmula do RoI é simples, basicamente lucro sobre custo.

A Fórmula do RoI apresentada na legenda
RoI = (Retorno – Investimento) / Investimento x 100

 

Os componentes do RoI

A fórmula do RoI é simples, com apenas duas variáveis, porém é necessário entender o que elas são.

Retorno

É tudo aquilo que a organização espera ganhar (Estimativa de Receita) ou economizar (Redução de custos). Dois pontos são muito importantes quando estamos falando de Retorno.

O primeiro é: Leve em consideração todos os dados que temos hoje. Por exemplo, taxa de juros, inflação, variação cambial (se for relevante para o contexto do produto ou serviço).

O segundo é que normalmente é mais fácil estimar a redução de um custo que a empresa tem hoje do que a receita que ela pode ganhar. O custo está no domínio da empresa.

Ela conhece, tem acesso e consegue atuar diretamente. Já a estimativa de receita é dependente do mercado. Ambas têm que ser acompanhadas constantemente, mas esta última precisa de um acompanhamento ainda mais rigoroso.

Investimento

Tudo que aquilo que gastaremos para transformar a ideia em produto ou serviço. Salários ao longo do período, aquisições, taxas, impostos, inflação etc.

Exemplo de Cálculo de RoI

Digamos que a empresa tenha um único time e dois projetos. Fazer em paralelo é ineficiente, logo esse time irá sequenciar o que deve entregar.

Adesivo da K21. Uma placa azul. Do lado direito uma seta para cima, do lado esquerdo uma seta para baixo. Os dizeres da legenda no meio da placa.
Qualquer Lista com dois ou mais itens tem que ser priorizada.
Projeto A                                                                      Projeto B
– Retorno Esperado: $ 1.000.000,00                         – Retorno Esperado: $500.000,00
– Investimento estimado: $ 700.000,00                   – Investimento estimado: $ 200.000,00
– Lucro: $ 300.000,00                                                  – Lucro: $ 300.000,00

Repare que se eu for analisar apenas o lucro, não consigo tomar uma decisão, pois são exatamente iguais.

Calculando o RoI dos projetos

Projeto A                                                                                                Projeto B
RoIA = (Retorno – Investimento) / Investimento x 100                     RoIB = (Retorno – Investimento) / Investimento x 100
RoIA = ($ 1.000.000,00– $ 700.000,00) / $ 700.000,00 x 100     RoIB = ($ 500.000,00 – $ 200.000,00) / $ 200.000,00 x 100
RoIA = $ 300.000,00 / $ 700.000,00 x 100                                         RoIB = $ 300.000,00 / $ 200.000,00 x 100
RoIA ≈ 43%                                                                                                   RoIB = 150%

O que temos agora de informações. Para o projeto A, para cada unidade monetária (real, dólar, euro…) que investimos nele, ganhamos de volta aquela unidade e mais 43 centavos.

$ 700.000,00 x 1,43 ≈ $ 1.000.000,00

Já para o Projeto B, para cada unidade monetária que investimos, ganhamos de volta aquela unidade monetária mais 1,50.

$ 200.000,00 x (1 + 1,50) = $ 200.000,00 x 2,50 = $ 500.000,00

Além disso, como o investimento do projeto B ($ 200.000,00) é menor do que o investimento do projeto A ($ 700.000,00) caso ele dê errado, o prejuízo seria menor o que nos leva a correr menos risco.

Concluindo, pela análise do RoI, seria melhor fazer primeiro o projeto B e depois o projeto A.

Pontos importantes que você deve ter em mente para discutir sobre o RoI

O RoI é um bom ponto para análise financeira de priorização de projetos, mas requer alguns cuidados ao utilizá-lo. Vamos apresentar alguns pontos de atenção que devemos ter em relação a ele.

Devo estimar um projeto inteiro?

Não, e isso vai exigir maturidade. Hoje buscamos Produtos e Serviços mais que projetos. Projetos têm fim, mas a manutenção dos resultados que eles produzem (produtos ou serviços) tem que ser levada até a descontinuidade dele.

E essa manutenção ocupará grande parte do tempo e esforço dos times da empresa. Antes de criar um projeto, pense que terá que evoluir e manter TODOS os produtos e serviços que você tem hoje na sua empresa.

Então o que você leva em consideração para análise do RoI? O princípio de Pareto: “80% dos efeitos vêm de 20% das causas”.

Para cada projeto, produto, serviço ou iniciativa, o time deveria compreender quais são os 20% do que faremos que irá produzir 80% do resultado. Esses 20% é que deveriam ser avaliados para o RoI.

Acompanhamento

O maior erro de aplicação do RoI é quando eles são calculados para priorização e jamais acompanhados novamente. Se não acompanhamos não sabemos se a expectativa se tornou realidade.

Lembre-se que o RoI é baseado em estimativas e não em assertivas. Estimativas têm que ser avaliadas continuamente.

Se você utiliza agilidade para construir e disponibilizar o seu produto e serviço, o RoI esperado dele deve ser parecido com este gráfico.

Gráfico em linha indicando a evolução do RoI ao longo do tempo. Primeiro mês, fevereiro, 0%. Março 65%. Abril 83%. Maio 89%. Junho 91%. Julho 93%. Agosto 94%. Setembro 95%.
Gráfico de Evolução do RoI Esperado na construção de um produto de forma ágil

 

Vemos que 83% do Retorno estimado do projeto aconteceu nos dois primeiros meses. Nos cinco meses consecutivos, o valor agregado ao produto foi de apenas 12% do retorno esperado.

Isso significa que do terceiro mês em diante, o investimento está ficando muito alto para o retorno que estamos recebendo.

Seguem 2 exemplos do mundo real desse comportamento.

Gráfico de área do RoI. Nas 7 primeiras Sprints chega até 80% do RoI total e depois o gráfico reduz a força da subida. Termina 3 sprints depois com 90%.
Gráfico de Evolução de RoI em um projeto de construção jurídico.

 

Neste gráfico aparece no eixo X o percentual de Retorno Sobre Investimento (RoI) esperado e no eixo Y as sprints de 10 dias úteis. Nas 7 primeiras sprints eles alcançaram 80% do valor total esperado.

Esse é um projeto jurídico que tinha como finalidade evitar multas e punições. Ele envolvia a construção de software, normas e treinamento, logo faz sentido que caminhe para a completude dele.

Repare que nas 4 sprints subsequentes, o esforço do time resultou em apenas 10% a mais de valor.

É um momento em que devemos questionar se vale a pena continuar com esse projeto ou começar um novo com um RoI maior.

Um gráfico de área com a evolução da construção do projeto. As explicações estão no texto.

 

Neste segundo gráfico, repare que o valor esperado ultrapassa os 100%. Isso porque as iniciativas não eram tratadas como projetos e sim como produtos.

Durante a jornada de construção foram encontradas novas oportunidades que produziram um retorno sobre o investimento favorável.

E os projetos que não trarão retorno no curto prazo ou é difícil estabelecer um retorno financeiro?

O ser humano é soberano à ferramenta.
(Rodrigo de Toledo)

O RoI é bom para priorizar projetos? Sim. Serve para todos os casos? Não. Existem iniciativas casos em que: a) não conseguimos estabelecer um valor tangível, b) são investimentos para trazer retorno no futuro, c) temos que pagar uma “dívida” para manter o produto ou serviço no mercado.

A empresa deve alocar seus investimentos em Horizontes do Tempo (H0, H1, H2 e H3). Com isso em mente, tratar os desiguais, como desiguais e iguais como iguais.

A primeira coisa seria separar as iniciativas nesses horizontes de tempo:

  • H0 – “Dívidas” que temos que pagar para manter o produto ou serviço no mercado.
  • H1 – Evolução (Retorno no curto prazo)
  • H2 – Revolução (Retorno esperado no médio e longo prazo)
  • H3 – Inovação (Produtos e Serviços disruptivos)

Você deve distribuir a proporção de investimento para cada horizonte. Por exemplo: Temos dez times na empresa. Três atuaram em H0, quatro em H1, dois em H2 e um em H3. Ou distribuir o orçamento disponível. 30% em H0, 45% em H1, 15% em H2 e 10% em H3.

Após separar as iniciativas nos Horizontes de Tempo, aí sim utilizaríamos o RoI para priorizar os projetos em cada grupo de horizonte de tempo. Já deixo o alerta.

Estabelecer RoI para H2 é um trabalho bem difícil. H3 é muito, muito, muito difícil. Quanto mais distante no tempo, maior o risco que estamos correndo e menor a assertividade.

Distribuição do RoI nos horizontes de tempo

H0
Item R/I
Produto B 65%
Produto D 50%
Produto A 32%
Produto C 14%
H1
Item R/I
Evolução A 80%
Iniciativa C 63%
Iniciativa D 40%
Iniciativa B 23%
Evolução E 20%
H2
Item R/I
Iniciativa X 149%
Iniciativa Z 101%
H3
Item R/I
Iniciativa Y ?

Deixe aqui seu comentário sobre esse assunto. Veja também o nosso treinamento de Métricas Ágeis para aprender essa e outras técnicas de priorização de produtos e serviços. Se quiser dar o próximo passo e ver sobre contratos ágeis, dê uma olhada neste vídeo do Marcos Garrido.

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Escrito por

Avelino Ferreira Gomes Filho

Trainer na K21


Avelino Ferreira é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na TI, começando como programador e chegando a gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis em 2008. Desde então, se dedica a auxiliar outras empresas na construção da cultura ágil. Atualmente, é Consultor e Trainer na K21
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