Vamos trocar exclamações por interrogações?

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Vamos trocar exclamações por interrogações?

19/02/19 - 4 minutos de leitura

Essa sugestão serve para várias situações de vida, desde o trabalho de um coach ou de um Scrum Master (SM) até no nosso dia-a-dia em redes sociais. Se comunicar usando perguntas é muito mais empático e educativo. Aliás, essa frase-título só parece uma sugestão porque está no formato de pergunta, se não iria parecer uma obrigação 😉

Coaching

O trabalho de coaching difere do trabalho de consultoria tradicional em diversos aspectos, mas em especial, por trazer mais perguntas do que respostas. As grandes consultorias tradicionais (mesmo as que se dizem ágeis) trazem respostas e receitas prontas aos anseios dos seus clientes. Nós, coaches ágeis, preferimos primeiro fazer com que os nossos clientes façam as perguntas certas. Depois, guiados por nós, queremos fazer com que pensem por si mesmos. Finalmente, juntos chegaremos aos próximos experimentos para tentar resolver sistemicamente os problemas.

Vejamos um exemplo: quando identificamos um ScrumMaster protagonizando um daily meeting (uma grave e comum disfunção), ao invés de dizer “todos tem que falar no daily meeting!” (com ponto de exclamação), preferimos perguntar “Qual o objetivo da daily meeting?”. E a partir daí, guiar nosso interlocutor (eventualmente, o próprio SM) para o entendimento do porquê dessa disfunção.

Há diversas vantagens dessa forma de se fazer coaching:

  1. Ao fazer com que a pessoa crie por si só um raciocínio (apenas guiado pelas perguntas), a gente constrói nela uma ligação neuronal que pode ser repetida. A próxima vez que a pessoa tiver um problema de classe semelhante, ela poderá seguir mais uma vez essa linha de raciocínio e reconstruir sozinha a relação de causa e consequência.
  2. Uma vez que ela mesma é quem chega à conclusão, há um alto engajamento. Fazer algo que alguém impôs raramente é engajador.
  3. Um coach (ou SM), quando identifica um problema, em geral, busca imediatamente uma suposição de causa raiz, fundamental para resolver problemas sistemicamente. Porém, é apenas uma suposição. Ao fazer perguntas, a gente se permite errar. Pode ser que as perguntas nos guiem para uma causa raiz diferente do que supúnhamos. Nesse caso, reconduzimos corretamente e geramos aprendizado para o coach.

Feedback

Dar feedback é um tópico vasto por si só. Existem várias técnicas e roteiros possíveis. Por exemplo, começar com críticas positivas (elogios) e depois críticas construtivas (algo que pode ser melhorado). Nas construtivas: vamos usar mais interrogações que exclamações?

Ao invés de criticar uma ação “você não devia ter feito isso!” podemos trocar para “por que você fez isso?”. Mais uma vez, há uma chance de haver uma razão ou justificativa a qual não sabemos.

Ajustar o discurso aos perfis

A troca para um discurso mais interrogativo é especialmente importante para certos perfis de personalidade. Em particular, o perfil criativo se sente muito tolhido quando as frases já vêm com exclamações. Tipicamente, o perfil mais analítico gosta de já trazer coisas prontas, mas entrará em conflito direto com o perfil criativo que gosta de fazer parte da solução e refuta receitas.

Redes Sociais

Hoje em dia, conflitos em redes sociais são algo comum na maioria de nossas vidas. Discussões de trabalho, brigas em famílias ou amigos se desentendendo são fatos corriqueiros nas redes sociais. Várias vezes são apenas a consequência de uma exclamação. No próximo conflito que você estiver testemunhando numa rede social, dê uma olhada no histórico. Provavelmente, você encontrará um ponto em que se a frase tivesse sido feita interrogativamente, não teríamos chegado ao estresse posterior. Nas suas próximas mensagens, troque exclamações por interrogações #ficaadica.

Dar aula

A aula tradicional (e chata) é aquela em que o conteúdo é entregue diretamente, com o professor passando informações que os alunos têm que absorver por obrigação. Costumamos dizer que esse é um modelo empurrado de ensino, pois empurramos o conteúdo goela abaixo. Num modelo mais puxado, a aula é conduzida a partir de perguntas. Despertar a curiosidade deve ser o primeiro passo na arte de ensinar. Com as interrogações, fazemos também a aula interativa, o que mantém a plateia ligada. Alunos mais experientes ou conhecedores, que em aulas empurradas perdem o interesse rapidamente, quando puxados também podem contribuir. As vantagens do sistema puxado de ensino são inúmeras e já publicamos previamente sobre isso.

Educação infantil

Quem é pai, sabe o quão valioso é fazer perguntas para os filhos para que eles cheguem às suas conclusões. As vantagens incluem: ensiná-los a pensar, desenvolver uma mente criativa e crítica, respeitar o nível intelectual atual, despertar o sentimento de prazer pelo desafio, etc. A criança começa a valorizar desde cedo que o mundo é feito muito mais de perguntas do que de respostas. Em especial, a pergunta “Por quê?” é extremamente importante (a mais importante das seis perguntas do mundo, conhecidas pela sigla 5W1H). Ou seja, “por quê?” é a pergunta que mais deveríamos fazer para as crianças e a que mais deveríamos valorizar ao ouvir. Elogiar quando fazem essa pergunta e, ao mesmo tempo, sentir prazer pelo desafio de respondê-la da melhor forma possível. Às vezes, a melhor forma dos pais responderem pode ser assim: “Excelente pergunta! Não sei exatamente a resposta, mas vamos pesquisar juntos?”.

Conclusão

Perguntar é muito bom e ouvir perguntas também. Que tal estimular que todos façam perguntas ao invés de afirmações? Vamos nessa?

Quer saber mais sobre esse tema, veja nossos treinamentos de Técnicas Ágeis de Facilitação e Certified Scrum Master (CSM).

Leia também nossos posts:

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Escrito por

Rodrigo De Toledo

Consultor, Trainer e Cofundador da K21


Rodrigo de Toledo é co-fundador da K21, Certified Scrum Trainer (CST) pela Scrum Alliance, Kanban Coaching Professional (KCP) e Accredited Kanban Trainer (AKT) pela Kanban University, além de Licensed Management 3.0 Facilitator. Com Ph.D na França, possui diversos artigos internacionais e lecionou por doze anos na PUC-Rio e na UFRJ, duas das principais universidades da América do Sul.
Esta postagem se encontra sob a licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0 International License.

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