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Paradoxo do Gestor Capitão Planeta

08/12/20 - 5 minutos de leitura

Ser gestor não é uma tarefa fácil. Se você desempenha esse papel, sabe que isso não é fácil. Suas atribuições envolvem desenvolver pessoas e gerar resultados para a organização.

Esse artigo está focado na primeira atribuição. Por vezes, achamos que damos autonomia suficiente ao nosso time, mas somos interrompidos o tempo todo para resolver problemas.

Será que estamos vivendo o Paradoxo do Capitão Planeta?

O Desenho do Capitão Planeta

Se você foi criança no início dos anos 90 e gostava do desenho do Capitão Planeta, pode ir para a próxima seção do texto.

Na imagem aparece o herói Capitão Planeta levantando voo na frente do time de Defensores. Os 5 defensores estão com os punhos cerrados e mãos levantados.

Capitão Planeta e os Defensores

O desenho foi produzido inicialmente pela DIC Enterprises (1990 até 1992) e posteriormente pela Hanna-Barbera Cartoons (1993 até 1996).

A história do desenho era a seguinte: o planeta Terra estava sofrendo com a poluição. Então, Gaia, o espírito da Terra, juntou cinco jovens de diversos continentes para compor o Time de Protetores com o propósito de defender a Terra dos poluidores.

Cada jovem tinha um anel que lhe dava o poder de manipular um elemento da natureza:

Membro De onde vem Poder
Kwame África (Gana) Terra
Wheeler América do Norte (EUA) Fogo
Linka Europa, mais especificamente União Soviética (depois Rússia) Ar
Gi Ásia (Tailândia) Água
Ma-ti América do Sul (Brasil) Coração (Comunicação com animais por telepatia e torna as pessoas mais bondosas)

Quando os cinco poderes eram unidos, formavam o Capitão Planeta. Este, ao surgir falava o seu bordão: “Pela União de seus poderes, eu sou o Capitão Planeta!”. E era respondido pelos Defensores: “Vai Planeta!”.

Após resolver o problema ele sumia e falava seu segundo bordão: “O poder é de vocês!”

Os cinco defensores com o braço estendido invocando o Capitão Planeta.

Os cinco defensores. Começando na imagem superior esquerda e indo no sentido anti-horário Gi, Wheeler, Ma-ti, Linka e Kwane.

Como funcionam nossas organizações

Digamos que Gaia represente as nossas organizações. Ela buscou profissionais capacitados para desenvolver o trabalho e montou um time capaz de resolver os problemas (Os Defensores).

O Capitão Planeta representa os gestores da empresa. Ele dá “autonomia” aos seus liderados, tanto que repete inúmeras vezes o bordão: “O poder é de vocês!”.

Gaia olhando para a frente com as mãos como quem estivesse aplaudindo. Ela usa um vestido grego roxo.. No texto ela representa um gestor de cargo mais elevado na organização.

Gaia representa a organização: normalmente esse papel está distribuído em diversas pessoas (Diretoria, RH, Gerentes e até no próprio time)

Qual o paradoxo?

Se você se recorda do desenho, apesar do lema repetido em todos os episódios, quando o time esbarrava em um problema real não conseguia resolvê-lo sozinho.

Eles sempre precisavam do Capitão Planeta para solucioná-lo. Ou seja, o poder não era de fato dos defensores e sim do Capitão.

Autonomia flácida

Esse é um problema comum em diversas empresas. Os times têm uma autonomia que é insuficiente para resolver problemas rotineiros.

Se o problema se repete inúmeras vezes, a pergunta que o gestor (Capitão Planeta) deveria se fazer é: Por que eles estão me chamando o tempo todo para resolver coisas triviais?

A resposta pode se enquadrar em algum desses itens:

  • Ambiente inseguro: pessoas com medo de errar e serem punidas;
  • gestor centralizador de poder;
  • falta de informações necessárias para a tomada de decisões e solução de problemas;
  • falta de autorização;
  • falta de políticas explícitas.

Como podemos começar a resolver esses problemas?

Ambiente inseguro

É o mais complexo dessa lista, pois envolve aspectos culturais que já permeiam a organização por anos, quiçá décadas.

Gestor, é seu papel promover essa mudança! Tornar a empresa um lugar agradável para as pessoas trabalharem é condição sine qua non para sobrevivência e lucratividade de empresas da economia do conhecimento.

A solução para esse problema não é simples, mas você pode começar a compreender como as pessoas estão se sentindo executando a dinâmica do Radar da Satisfação.

A partir daí, você terá uma base para saber no que você, enquanto facilitador, poderá investir.

Gestor centralizador

Há algum tempo os gestores acreditavam que ser um Super Gestor era centralizar o máximo de poder e decisões possíveis. Isso era funcional no século passado. Nos tempos atuais isso beira a loucura. Veja o artigo Líder Servidor: O que É e o que FAZ (e o que não é).

Para resolver esse problema: Gestor, o poder é seu!

Quando converso com pessoas centralizadoras, gosto de perguntar: Qual o seu próximo passo na carreira? Se você é indispensável no ponto em que está, jamais conseguirá subir. Afinal, você é “indispensável”.

Gosto também de acrescentar a pergunta que serviu muito a mim no papel de gestor. Ela foi feita pelo Samuel Cavalcante: Quem é que você está preparando para assumir o seu lugar quando você der o próximo passo na carreira?

Falta de Informações

Se o seu time não tem as informações necessárias, jamais terá autonomia real para tomar as decisões que você precisa.

Nas turmas de Métricas Ágeis gosto de reforçar: As métricas são do Time. Inclusive, ou melhor, principalmente as métricas de Eficácia do produto ou serviço: Qual receita tivemos? Qual o Lifetime value? Ticket Médio? Churn?

Tudo isso deveria ser respondido por qualquer um do time e não apenas as instâncias mais altas da organização. Sem elas, as decisões são baseadas apenas em sentimentos e esses geram o medo.

Falta de Autorização

Ao longo de anos fomos criando empresas em formatos de silos com especialistas do especialista do especialista. Agora percebemos o problema que isso gerou e a dificuldade que é criar um time multidisciplinar.

Se você é da área de Tecnologia da Informação, veja se você já não viveu esse problema: seu time quer colocar uma nova versão da aplicação no ar. Para isso, precisa acrescentar um campo na tabela de banco de dados. Só que o seu time não tem autorização para isso porque há um time de banco de dados que é o responsável por isso.

Você abre solicitação (ticket) para acrescentar um campo na tabela. A execução do trabalho demoraria menos de um minuto, porém o time de banco de dados recebe pedidos de diversos times e para eles, o seu é só mais um.

É provável que aquele único comando de banco de dados que demoraria menos de um minuto para ser executado fique aguardando por mais tempo do que levou para criar a funcionalidade inteira.

Quando criamos os silos, acabamos criando linhas de extrema especialização e isso fez com que um time não entendesse ou aprendesse o trabalho do outro. O impacto financeiro no mundo contemporâneo é enorme.

Não tem muito jeito. Temos que começar a quebrar esses silos. Veja se a dinâmica do Mapa de Competências pode te ajudar a começar a criar um time realmente multidisciplinar.

Uma outra forma de resolver o medo que gera o excesso de etapas de autorização é com automação. Hoje temos diversas ferramentas no mercado que nos permitem rapidamente recuperar nossos produtos e serviços de “erros”.

Falta de políticas explícitas

Muitas das vezes os limites até onde os times podem ir não são claros. O que é esperado? O que podemos fazer? Qual é a nossa autonomia?

Veja neste artigo em que abordamos esse tema: Queremos autonomia! Faça Delegação através do Delegation Board.

Conclusão

Nós acreditamos que no mundo atual precisamos de times que sejam realmente multidisciplinares.

Acreditamos também que a autonomia é essencial para que cada time tome decisões, preste bons serviços e torne as organizações bem sucedidas e com um espaço alegre para se trabalhar.

É fundamental que os gestores se tornem facilitadores, que possam dizer para seus liderados sem titubear: O poder é de vocês!

Capitão Planeta na sua pose lendária com o dedo apontando para a tela do televisor enquanto diz: O Poder é de vocês!

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Escrito por

Avelino Ferreira Gomes Filho

Trainer na K21


Avelino é formado e mestre em Ciência da Computação. Teve uma longa trajetória na T.I. começando como programador e chegando à gestor de diversos times de criação de produtos digitais. Conheceu e começou a adotar as melhores prática de de Métodos Ágeis desde 2008. A partir de 2015 se dedicou a auxiliar outras empresas a adotar tais métodos. Atualmente é Agile Coach e Trainer na Knowledge 21.
Escrito por

Raphael Montenegro

Agile Expert e Trainer na K21


Raphael é Agile Expert e trainer na K21 com foco na visão de negócios, gestão de produtos, desenvolvimento de clientes e mindset lean startup. Tem a missão de usar a agilidade para educar e desenvolver pessoas desde 2007.
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