Bem antes que seja julgado pelo título, é importante contextualizá-lo. Dado a minha experiência de mais de 15 anos como HeadHunter, professor de MBA de Pessoas e Gestão, e Trainer de RH Ágil, permitem-me afirmar que a maioria das promoções segue um determinado padrão:
As organizações normalmente promovem performance, realizações, feitos e façanhas individuais.
Segundo Michael Page*,em 2019, 8 em cada 10 profissionais pediram demissão por causa do chefe. Também em 2022 uma pesquisa realizada pela Gallup, com 7 mil pessoas nos EUA, afirma que metade dos funcionários pede demissão por causa do chefe. São imensas as pesquisas e as estatísticas que comprovam que a maior causa de Turnover não está relacionada aos baixos salários, ou à falta de desafios, como comumente os RHs costumam culpar e sim, a uma Liderança extremamente mal preparada.
Entendam que usei mal preparada, ao invés da habitual liderança despreparada. Não vou “passar panos quentes” nos chefes despreparados, mas gostaria de dar uma luz numa das principais causas raízes. Agora vou falar de empirismo e observações minhas. Como é que o RH através das suas políticas ultrapassadas de promoção e reconhecimento habitualmente atuam:
Por norma, promovemos o indivíduo. Reconhecemos basicamente as ações individuais assim como as suas conquistas, ou seja, premiamos os lobos solitários que a qualquer custo (sim, exagerei um pouco) ganham as suas corridas corporativas. Usamos milhões de métricas / KPIs olhando unicamente para performance, ao invés de olhar para os comportamentos desejados pela organização. E eis a consequência disto: Com estes objetivos impostos, criamos e incentivamos comportamentos tóxicos. Diga-me, como RH mede, e eu, como funcionário, dir-lhe-ei como me irei comportar!
Claramente, estamos a promover a toxicidade (ou comportamentos tóxicos) ao invés de líderes confiáveis e admirados. Desafio-o a perguntar a qualquer funcionário de nível operacional, quem é o idiota, para não usar outras palavras de baixo calão e, maioritariamente a resposta será: O MEU CHEFE.
Mas onde está a cobardia?

Pois bem, ao longo dos anos este mesmo líder podia errar, ter dúvidas e até mesmo não saber executar uma determinada tarefa. Afinal, ele não era chefe de absolutamente nada e, simplesmente, do dia para noite, por ter sido um bom analista e ter alcançado as suas métricas, seguido o seu PDI (plano de desenvolvimento INDIVIDUAL, escrito por algum futurologista do RH), ele adormeceu analista e acordou chefe.
A partir deste dia, o mesmo perdeu magicamente todo o direito de ter dúvidas, de não saber executar uma determinada tarefa ou minimamente poder perguntar a opinião de um terceiro, porque afinal, agora ele é o chefe. Como podemos esperar que uma pessoa que sempre trabalhou com métricas e incentivos individuais (bónus, MBA pago pela empresa, direito a uma mesa maior…) consiga milagrosamente, com pouco ou nenhum incentivo, ou preparação, olhar para uma equipa, ser responsável pelo desenvolvimento de toda uma área se ele nunca foi formado, capacitado e incentivado a fazer isto antes? Ou pior, o mesmo foi escolhido pela organização, segundo as políticas e cultura, justamente por NÃO trabalhar coletivamente, possivelmente tirando um tapete, ou simplesmente “correndo mais rápido que a sua equipa''. Agora tem que ser um líder servidor/admirado.
Agora sim, posso afirmar, que estamos a cometer uma valente cobardia! Bora lá, RHs, parem de se esconderem atrás de normas e políticas, que em algum momento no passado fizeram sentido, e passem a assumir a verdadeira responsabilidade da nossa área, que é basicamente criar ambientes colaborativos onde as pessoas possam constantemente aprender e ensinar, combatendo normas e procedimentos que induzem a comportamentos tóxicos.
Basta de cobardia!
Por isso, eu convido-o a posicionar o RH, uma área essencial em qualquer transformação organizacional, de uma forma mais estratégica e inovadora. Aceita este convite?